Blockchain aposentará os sistemas atuais?

Blockchain é considerada por especialistas como um “tsunami” que irá permear (ou inundar mesmo!) os negócios daqui por diante até se tornar indiscutível e presente em todas as etapas da cadeia de valor.

Essa onda deverá provocar muitas mudanças nos processos e sistemas atuais.

Falando de Supply Chain, a adoção do Blockchain nesse escopo está num estágio inicial com vários casos implantados, já faz parte da agenda de muitos executivos, fornecedores e técnicos.  Contudo, como toda nova tecnologia ou conceito, ainda recebe críticas de sua real capacidade, leva tempo para ser entendido em termos de funcionamento, benefícios e riscos, ser testado, adotado e implementado; ou eventualmente não servir.

Quem viveu a época do Código de Barras, na década de 90 no Brasil, viu que só decolou depois que as grandes redes de varejo resolveram adotá-la, impondo a capacitação aos fornecedores locais para continuar no negócio.  Creio que com Blockchain ocorrerá o mesmo. Demora, mas chega!

Mas o que fazer com os Sistemas Atuais?

Não se pretende aqui declarar a simples aposentadoria dos sistemas legados, mas sim pensar numa cadeia logística mais eficiente com Blockchain potencializando o atual poder dos atuais sistemas já consolidados, integrando-os através de APIs ou Application Program Interfaces, capazes de compartilhar as informações essenciais entre os os sistemas, transformando os processos e executando as tarefas que requerem compartilhamento numa nova rede distribuída e certificada.

Blockchain neste contexto deverá inicialmente ocupar 2 espaços importantes na cadeia de suprimentos, dentre tantos “use cases” já identificados. O primeiro é o dar maior visibilidade aos processos e o segundo é da integração plena, temas que até hoje carecem de soluções 100% confiáveis e completas.   São passos importantes para se ter um Control Tower Powered by Blockchain. Atualmente os sistemas que tentam cumprir essa função de pertencem a empresas que são “partes” da cadeia e buscam entregar a sua parte da melhor forma possível.  

Os Sistemas de Informação como os conhecemos, com ERP´s, Soluções de SCM, EDI e mais recentemente os aplicativos móveis cumprem bem uma parcela dessa integração, mas como cada empresa tem o seu, e investiu para ficar com a “sua cara” a proposta destes é sempre ficar dentro de sua cota responsabilidade, limitada a poucos pares de clientes e seus principais fornecedores e no escopo dos processos logísticos e cadastros localizados. Ficam de fora boa parte das regras fiscais, contratos comerciais, crédito e pagamentos, avaliação de risco, demandas cartoriais, certificações de entrega e qualidade; feitas de forma paralela e manual, tornando o fluxo operacional mais lento, obscuro, caro e falível.

Podemos citar várias características dos sistemas atuais que impedem a melhor integração dos processos:

  • Cadastros de produtos e clientes – cada empresa tem o seu e faz um “de -para” para conciliar seus pedidos e faturas – perda de qualidade das informações e erros operacionais;
  • Regras comerciais e logísticas programadas de forma diferente em cada sistema – disputas por desconhecimento ou enganos tratados de forma manual apartada;
  • Constante troca de e-Mails – retrabalho para conciliação manual – lentidão e falhas;
  • Versão da verdade desatualizada – atraso em processos e aumento no tempo de ciclo;
  • Interfaces ponto-a-ponto – tradução de formatos – dependência de terceiros – baixa flexibilidade para novos entrantes – não escaláveis – sem devida proteção ao risco cibernético;
  • Custos adicionados pela imposição de formatos e ferramentas usadas pelas grandes corporações;
  • Fluxos financeiro e fiscal apartados – conciliação complexa – fluxo reverso dificultado;
  • Gestão de fluxo dependente de pessoas e processos manuais – lentidão e falhas;
  • Baixa visibilidade do processo de ponta-a-ponta;
  • Baixa colaboração em caso de erros ou rupturas no processo.

Virtudes da Cadeia de Valor integrada com Blockchain

Com a adoção de plataformas comerciais apoiadas em Blockchain conseguimos vislumbrar uma forma nova de executar a cadeia de valor:

  • PEDIR: Informação da necessidade de consumo ou reposição, aprovada, agregada, postada e atualizada pelos clientes a cada etapa, visível em tempo real a todos de sua cadeia de valor, propiciando melhor visibilidade das demandas e condições desejadas;
  • NEGOCIAR: Regras e contratos padronizados, políticas comerciais flexíveis e uniformemente aceitas e refletidas nos sistemas de cada participante, usando contratos inteligentes (smart contracts) e permitindo novos players e maior competitividade;
  • ATENDER: Condições de venda, dados técnicos, atendimento, produção, compra/revenda, transportes, armazenagem, recebimentos, devoluções, dificuldades, ajustes feitos, reversões, … 100% alinhadas às necessidades postadas e assinadas eletronicamente por todos os agentes da cadeia de valor, por menor que seja esse agente (um prestador de serviço, um consumidor, um órgão fiscal regulador, …);
  • LIQUIDAR: Créditos, pagamentos e transferências de valor realizados de forma sincronizada com o fato-gerador, usando as moedas, meios de pagamento e novos mecanismos de compensação financeira diminuindo tarifas e overheads;
  • CONTABILIZAR: Faturamento, Registros contábeis e fiscais, além do Livro-razão de cada um dos players 100% conciliados com as transações de “ida-e-volta” em toda a cadeia (cópias imutáveis e distribuídas da contabilidade); e
  • ACOMPANHAR: Workflow de cada etapa gerenciado de forma on-line por uma plataforma (e não por uma empresa), com visão única das transações e status a todos os participantes.

A adoção de Blockchain se dará obviamente na medida em que as empresas percebam sua viabilidade e justificativa, experimentem os benefícios que a tecnologia sugere, promovendo o controle e acesso à informação de forma mais democrática e abrangente, maior segurança, transparência, confiança, flexibilidade, reduzindo custos, permitindo maior alcance a empresas, mercados e novos modelos de negócio. 

Para que isso seja realidade é essencial que as empresas, governo e cidadãos trabalhem juntos para:

  • Buscar consistentemente uma operação mais eficiente e focada no cliente, beneficiada pela sua integração e execução mais inteligente (a lista de oportunidades é farta!);
  • Conhecer e incentivar as plataformas de Blockchain, que estão se formando, avaliar sua viabilidade e promover o engajamento adequado; e
  • Construir planos de transformação que aproveitem e potencializem o que de melhor as soluções já implantadas e consolidadas já oferecem e torná-las mais digitais, considerando a adoção de Blockchain, e ainda combinando com outras tecnologias de inteligência Artificial, Processos Robotizados, Mobile e Cloud.

Por Paulo Eduardo Corazza

Leia também: Devemos investir primeiro nas ““necessidades” ou nas “possibilidades”?

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